terça-feira, 25 de abril de 2017

O suicídio entre crianças e jovens



Gustav Klimt - A vida e a Morte

Seguindo a série de artigos sobre suicídio, vou falar hoje sobre o suicídio entre crianças e jovens.

Lembro-me de quando Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, cometeu suicídio. Naquela semana, pelo menos 68 jovens tiraram suas vidas imitando o ídolo. Mas essa não foi a primeira vez em que jovens cometeram suicídio por imitação. Quando Goethe lançou seu livro Werther, em 1774, ocorreu uma onda de suicídio entre os jovens que se identificaram com o personagem principal, que se mata por amor no final do livro. O caso foi considerado tão grave que o livro foi tirado de circulação.

Muitos outros casos constam na História, o que nos faz compreender que, por mais estranho e incompreensível que possa parecer, sim, os jovens cometem suicídio por imitação, por identificação, por homenagem a um ídolo, como também podem tirar a própria vida por depressão, bullying, stress, pressões excessivas, entre outros motivos.
Segundo dados do Mapa da Violência, organizado pelo Ministério da Saúde, de 2002 a 2012 o número de suicídios entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos aumentou 40%. Criador do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz destaca que o suicídio também cresce no conjunto da população brasileira. A taxa aumentou 60% desde 1980. Segundo a BBC Brasil, em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária entre 15 e 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000. Assim, entre 1980 a 2014, houve um crescimento de 27,2%. 

Isso é um aumento bastante significativo e devemos nos perguntar por que tantas crianças e tantos adolescentes escolhem tirar a própria vida quando ela está apenas começando.

Em primeiro lugar precisamos entender que ninguém que esteja mentalmente sadio, completamente feliz e satisfeito com a própria existência pensa em morrer. A morte pode aparecer como "solução" para quem não enxerga mais nenhuma saída para o próprio sofrimento. E não nos cabe dizer que o que a pessoa sente é muito pouco para pensar em se matar, porque cada um vivencia o sofrimento e a dor de forma muito própria e particular. Portanto, dizer que a pessoa é fraca, que quer chamar a atenção e outras tantas coisas que costumamos ouvir e até mesmo dizer muitas vezes, não reflete a verdade dessas pessoas, tampouco as ajuda a se recuperar de sua condição.

Os jovens e as crianças, via de regra, não estão completamente preparados para lidar com o sofrimento e com as pressões, portanto situações como bullying, o cyberbullying, a perda de entes queridos, stress constante, dores físicas podem ser fatores desencadeantes para o desejo de morte. Segundo Evelyn Kuczynski, um estudo que analisou 37 pesquisas mundiais identifica o bullying como uma das principais causas do suicídio de crianças e adolescentes, sendo o suicídio a terceira maior causa de mortalidade no mundo nesta faixa etária, atrás apenas dos acidentes de trânsito e homicídios. 

O suicídio é mais comum em adolescentes a partir dos 15 anos de idade, porém há casos em que crianças tiram suas próprias vidas. Esses casos, entretanto, são raros devido ao próprio desenvolvimento do conceito de morte em cada faixa etária, além da capacidade de planejamento, ideação, etc, a que a criança tem acesso dependendo de sua idade. 
É bastante frequente que os casos de suicídio estejam acompanhados de transtornos mentais, mas os casos onde não existe nenhum transtorno associado também acontecem. 

É preciso saber que crianças já bem pequenas podem apresentar sintomas de depressão ou de tendência à auto-destruição. Porém, muitas vezes os pais não conseguem identificar esses sintomas, pois eles podem ser facilmente confundidos com "coisa de criança", birra, malcriação, irritabilidade, etc. Estamos acostumados a associar a depressão a uma profunda tristeza, mas não é apenas dessa maneira que ela se manifesta. Uma pessoa muito irritada, muito agressiva, constantemente cansada também pode estar apresentando sintomas depressivos e não tão facilmente identificáveis.

Os adolescentes, devido a toda a série de mudanças físicas e psíquicas às quais passam, estão mais propensos a terem sintomas depressivos que podem ser mais ou menos patológicos, ou, em outros termos, que podem ser considerados mais ou menos "normais', de acordo com a maneira como se apresentam. 

Embora a depressão seja uma patologia com mudanças biológicas no cérebro, ela pode se apresentar com maior ou menor intensidade de acordo com o ambiente em que a criança ou o adolescente vivem.

Podemos citar alguns sinais de alerta para os sintomas depressivos em crianças e jovens:

Na infância:

  1. a criança que não brinca ou o faz sempre sozinha
  2. agitação excessiva, 
  3. quedas frequentes,
  4. infecções
  5. problemas com apetite. 
Na adolescência:
  1. ausência de relações sociais,
  2. improdutividade escolar, 
  3. agressividade ou agitação excessiva,
  4. mudanças abruptas de humor, 
  5. irritabilidade,
  6. ansiedade
  7. auto-mutilação (cortar-se, arrancar os cabelos ou pelos do corpo, por exemplo)
  8. uso abusivo de álcool
  9. uso de drogas
  10. passar longas horas conectado ao computador e evitar contato no mundo real
Segundo a OMS, os fatores de risco para o suicídio infanto-juvenil são:

depressão

histórico familiar de suicídio

uso de álcool e drogas na família ou pelo jovem 

abuso

acesso ao instrumento

bullying

estresse

pressão interna

dificuldade de interação social


Importante salientar que esses são apenas alguns sinais. Por isso é muito importante que os pais estejam sempre atentos a seus filhos e ao comportamento que eles apresentam. Monitorar o que seus filhos fazem, com quem se relacionam, observar seu dia a dia, olhar seus livros escolares, perguntar sobre seus interesses, tudo isso e muito mais traz importantes informações aos pais sobre como está a saúde mental de seus filhos, como anda seu humor, se há mudanças importantes em seu comportamento.

E se notar alguma mudança abrupta na forma como seu filho se comporta, procure um médico, converse com um psiquiatra ou um psicólogo, procure algum tipo de ajuda, pois o diagnóstico desses casos é complexo, difícil e quanto antes o problema for identificado e tratado, menores serão os danos causados tanto à criança ou ao jovem, quanto à sua família.

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