Outlander é
uma novela da escritora americana Diana Gabaldon. Na história a protagonista
Claire, uma mulher de 27 anos que vive na década de 1940, viaja até a Escócia em segunda
lua de mel com seu marido Frank, logo após o término da II Guerra Mundial. Lá,
entre mitos e lendas, entre druidas e fantasmas, Claire acaba por realizar uma
viagem no tempo através das pedras de Craig na Dun, indo parar no ano 1743, numa realidade
completamente diferente da sua. Ao chegar no passado ela conhece o terrível Black
Jack Randall, o tataravô antepassado de seu marido Frank, e Jamie Fraser, por
quem acaba se apaixonando e em quem a história toda acaba orbitando.
Os primeiros livros foram escritos na
década de 1990 mas a primeira temporada da série de TV foi filmada entre
2014/2015 pela Starz, tendo Sam Heugham como Jamie e Caitriona Balfe como Claire. A segunda temporada foi exibida em 2016 e a terceira
temporada está em andamento desde setembro de 2017.
Outlander está longe de ser uma história
de amor nos moldes romanceados de Jane Austen mas tem mexido fortemente com o
imáginário feminino, mesmo sendo permeada por momentos de extrema violência e
crueldade.
Por que será que no ano de 2017 e em pleno século XXI onde
o feminismo está cada vez mais forte e a luta das mulheres por liberdade e
direitos iguais cresce dia a dia, Outlander e seu protagonista James (Jamie)
Fraser, um guerreiro highlander machista, fazem tanto sucesso com as mulheres como fazia quando as histórias iniciais foram escritas, na década de 1990?
Acredito que a reposta não esteja em
Jamie propriamente dito, mas na personagem feminina Claire.
Apesar de ser uma mulher do século XX e
em sua época original também enfrentar o machismo e o preconceito, Claire nunca
aceitou esse tipo de limitação ou imposição. Sempre foi uma mulher à frente de
seu tempo tendo sido criada pelo tio, um Arqueólogo que nunca exigiu dela
atitudes e comportamentos de “menininha”. Ao invés disso, Claire viveu em
diversos lugares do mundo, dormiu ao relento, aprendeu a sobreviver na selva,
aprendeu a ser forte diante das dificuldades e a não depender de ninguém,
principalmente de um homem.
Claire nunca teve uma vida comum e
monótona e transporta essa característica para o século XVIII, onde não aceita
as imposições feitas à mulher da época.
Porém, mesmo com todas essas
características, se apaixona pelo guerreiro Jamie, um homem alto, forte, ruivo, mais novo que ela e virgem com quem é obrigada a se casar para não ser capturada por
Black Jack Randal.
Apesar de seu lado machista, resultado da
educação que recebeu de seu pai, de seu padrinho e de seus tios, Jamie é gentil e
carinhoso, muitas vezes se apresentando como um menino frágil. Porém é
igualmente protetor, salvando-a e protegendo-a de todo tipo de perigo e
adversidade.
A vida com Jamie nunca será monótona. O
casal passa por inúmeros problemas e dificuldades, o que reforça ainda mais os
laços entre eles. Quanto mais problemas, mais apaixonados e unidos eles se
tornam.
Outro ponto crucial na vida do casal é o sexo. De uma forma ou de outra, Jamie e Claire conseguem resolver todas as suas diferenças na cama, onde também não há monotonia. Entre eles o sexo nunca é igual, podendo ser selvagem ou a mais amável e tranquila das transas. Jamie e Claire são a representação do par perfeito, sem serem piegas ou cliché.
Apesar de amar e respeitar Jamie, Claire
nunca se furta de se impor como mulher e ser humano livre e autônomo.
Entretanto, sabe como ninguém quando ceder aos desejos de Jamie e até mesmo
obedece-lo, se for necessário.
Claire jamais conseguiria viver uma vida
monótona e tranquila de dona de casa comum. Jamais conseguiria se contentar com
um marido que suprisse todas as suas necessidades enquanto ela ficaria em casa
cuidando dos filhos, no século XVIII ou no século XX. Prova disso é que ao
voltar ao século XX, antes da batalha de Culloden, Claire tenta retomar seu
casamento com Frank mas não consegue. A vida que Frank lhe oferece é pacata
demais, monótona demais, segura demais. Claire é inquieta, ativa, altiva,
malcriada, segura de si, proativa. Ela precisa de mais, sempre mais. Por isso
decide quebrar todas as regras e se tornar uma médica cirurgiã numa época em
que as mulheres sequer frequentavam as universidades. Por isso a vida com Jamie era tão excitante e desejada, porque Claire podia ser plena naquele cenário de aventuras, perigos e amor.
Por outro lado, a vida com Jamie permite que
Claire exercite também o oposto de sua personalidade positivamente agressiva, dando vazão a seu lado maternal, cuidadora, pois é ela quem está sempre
cuidando dele, tratando de suas feridas, ensinando-o e ajudando-o a crescer e
ser uma pessoa melhor. Essa é mais uma característica da personalidade dela.
Claire é a representação arquetípica do feminino em vários níveis.
Claire é a representação arquetípica do feminino em vários níveis.
O universo de Claire é o universo que a
maioria das mulheres ainda sonha para si: ser livre, viver uma vida sem
monotonia, crescer profissionalmente e ainda assim ter ao seu lado um homem que
seja capaz de faze-la se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, satisfaze-la sexualmente, viver com ela
as mais diversas aventuras, aceitando-a, compreendendo-a e protegendo-a.
As mulheres amam James Fraser, mas
certamente amam muito mais Claire Beauchamp que traz consigo o retrato da
mulher moderna - empoderada e dona de si, que não aceita se anular por ninguém,
nem deixar de viver seus sonhos e seus desejos - embebido no imaginário feminino
de viver um grande amor que sobreviva ao tempo e à distância.
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