quarta-feira, 19 de abril de 2017

O suicídio como caminho: 13 Reasons Why e a Baleia Azul



Nas ultimas semanas temos sido bombardeados por notícias referentes ao jogo Baleia Azul e como ele estaria levando jovens ao suicídio. Também esteve presente nas mídias, comentários e matérias a respeito da série do Netflix “13 reasons why” ou "Os 13 motivos", em português. Mas será que essas duas histórias podem ter alguma coisa em comum? É justamente sobre isso que eu quero falar com vocês hoje. 

Tanto o jogo da Baleia Azul quanto a série tratam da temática do suicídio entre os jovens, coisa que tem aumentado imensamente no mundo todo e que, ao que parece, tem deixado pais, educadores e até mesmo profissionais de saúde mental um pouco confusos a respeito dos motivos e de como tratar essa epidemia.

Eu pretendo voltar à temática do suicídio e da depressão entre os jovens nas próximas postagens para que possamos entender melhor toda essa realidade, mas hoje eu quero falar de um dos pontos que eu considero mais importante nessa temática e que vou tratar nesse primeiro artigo sobre o suicídio, que diz respeito a como os jovens têm sido negligenciados pela família, pela escola e pela sociedade. Se nós pensarmos a respeito do que tem sido divulgado sobre o jogo da Baleia Azul, se ele realmente existir, devemos pensar em como é possível que um jovem se mutile, saia de casa de madrugada para cumprir tarefas, passe o dia assistindo a filmes de terror sem que seus pais tomem conhecimento disso. Se isso for mesmo real, que tipo de família tem esses jovens? Que tipos de pais são esses que são incapazes de perceber mudanças tão graves, sérias e drásticas na rotina e na vida de seus filhos? Será que isso é mesmo possível?

Em 13 reasons why é justamente esse tipo de situação que é abordada. A jovem Hanna começa a ser vítima de bullying na escola que, posteriormente passa a algo mais sério como assédio sexual e moral e, sentindo-se assustada, sozinha e acuada, sem comunicar a ninguém seu sofrimento e sem enxergar nenhuma outra saída, completamente desesperançada, acaba cometendo suicídio. Seus pais não enxergam as mudanças que ocorriam com sua filha ao longo dos meses de sofrimento e mesmo após a morte da jovem, muitos outros pais eram incapazes de olhar para seus filhos de forma profunda e cuidadosa. Infelizmente essa é a realidade de muitas famílias: filhos isolados em seus mundos, na internet, em seus tablets e celulares, e pais igualmente isolados em seu próprio mundo de trabalho, redes sociais, etc, sem que haja comunicação real, aquela do olho no olho que é tão importante para todo mundo. Esses jovens, muitas vezes com tempo ocioso demais e maturidade de menos, acabam sentindo-se entediados, aborrecidos, negligenciados, perdidos e buscam apoio em grupos de outros jovens que não necessariamente lhes farão bem. Tem sido assim desde que o mundo é mundo: jovens rebeldes, jovens que procuram as drogas... enfim, acredito que a única novidade seja a de que hoje  em dia o acesso às redes sociais facilitou e muito a troca de informações entre os jovens, como também facilitou a divulgação de tudo o que é ruim e negativo.
Não podemos omitir o fato de que muitas famílias têm sim, negligenciado seus filhos e essa é uma responsabilidade que deverão assumir caso não queiram perder seus jovens, independente de jogos de suicídio serem ou não verdadeiros.

Precisamos também salientar o papel da escola e dos professores na questão do jogo Baleia Azul. Professores tem contato mais direto com seus alunos e podem ser capazes de identificar mudanças de comportamento, de rendimento escolar, faltas, etc. Portanto, são extremamente importantes na identificação de problemas. Na série do Netflix, após a morte da jovem Hanna os professores passam a se perguntar como puderam não notar as mudanças na garota, a forma como seu comportamento foi se transformando e o sofrimento pelo qual estavam passando.

A escola tem um papel crucial na vida do aluno, pois é lá que se pode identificar sua capacidade de socializar, de se comunicar, seus comportamentos, muito além da aprendizagem. A escola precisa estar atenta a seus alunos e fazer um trabalho conjunto com os pais para evitar tamanho sofrimento a esses jovens. Não se trata de a escola assumir um papel que seria da família, mas sim, agir em parceria.

Professores, educadores, diretores de escola, pais, todos precisam estar muito atentos. Conversar, instruir, mas acima de tudo, estar verdadeiramente aberto para ouvir, acolher, aceitar, compreender sem julgamentos, esse é o caminho. E não ter medo e nem vergonha de procurar ajuda profissional se perceberem que a coisa está mais difícil de lidar do que deveria.

Um comentário:

Patrícia Pereira Portella disse...

Me preocupei com essa ausência de percepção de nós pais, 50 desafios a serem cumpridos e nada é percebido, é um alerta de que existe um vazio, estou preocupada e fui buscar informações e conversar sobre isso.