sábado, 21 de setembro de 2019

Melancolia: a metáfora da depressão

Confesso que nunca tinha ouvido falar de Melancolia até o mês passado, quando estava fazendo uma pesquisa para uma aula a respeito de depressão. Eu procurava por filmes que pudessem ilustrar o tema e me deparei com ele.
Melancollia (Melancholia, 2011) é um desses filmes dos quais não saímos impunes. Não é um filme fácil de ser assistido e para quem sofre de depressão, é cheio de possíveis gatilhos e por isso deve ser visto com cautela.
A história fantástica gira em torno de um planeta (Melancolia) que está se aproximando da Terra, mas que a ciência garante que não colidirá com ela.
Quanto mais esse planeta se aproxima, no entanto, mais Justine - a personagem de Kirsten Dunst, que  na vida real também sofre de depressão, tendo inclusive se internado em 2008 - entra numa crise depressiva que acaba atingindo toda sua família, culminando com um final dramático.
Lars Von Trier, o autor, passara por um processo depressivo logo após filmar Anticristo, em 2009 e fica claro que Melancolia é, então, quase uma catarse que expõe de forma densa e metafórica o que ele passou em seu processo e como a depressão atinge não apenas o doente, mas todos aqueles que estão a sua volta. E quanto mais íntima for essa relação, maior a probabilidade de sofrimento.
A fotografia do filme mostra a todo momento como um doente de depressão enxerga o mundo: cheio de distorções, com poucas cores, com desesperança ("a Terra é má, ninguém sentirá falta dela", diz Justine em um diálogo com a irmã). Mostra como o doente se sente preso a um mundo do qual não consegue se livrar sozinho, o peso da dor, da tristeza e a sensação de impotência diante de tudo isso.
O filme também mostra a importância das relações sociais e familiares como gatilhos de crises e também como forma de supera-las. Além disso, aborda a maneira como as pessoas em geral olham com desconfiança e impaciência para o depressivo, sem compreender como seja possível uma pessoa aparentemente saudável deixar de comer, de beber, de tomar banho, deixar de fazer coisas básicas que qualquer adulto faria normalmente.
Como em outras obras desse tipo, a filme abre margem a muitas interpretações e o seu final pode ser compreendido sob várias perspectivas. Justine, mesmo com toda dor e sofrimento, foi a pessoa que deu suporte para sua família nos momentos derradeiros, demonstrando serenidade e resignação. A crença cega na ciência, entretanto, levou John - cunhado de Justine - a cometer suicídio quando percebeu que falhara miseravelmente em suas previsões, dando uma derradeira demonstração de seu caráter egoísta e orgulhoso.  Outra interpretação possível é a de que Melancolia é a própria Justine, que como uma força incontrolável, atinge negativamente toda a família.
Seja como for, Melancolia é impactante, não importa qual seja a interpretação dos acontecimentos. É denso, é lento, é sombrio mas é extremamente enriquecedor para quem deseja compreender como é o mundo de uma pessoa que sofre de depressão.



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