quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Funcionamento cerebral, aprendizagem e comportamento

O sistema nervoso é composto de um intrincado processo de envio de informações, que nada mais são do que impulsos elétricos e atividades químicas. Esses impulsos são enviados para as partes cerebrais que correspondem a cada tarefa ou pensamento que o indivíduo pretende realizar e isso é feito através dos neurônios. Da mesma forma que em nossa casa temos tomadas e fios, que conduzem a energia que vem do poste, do lado de fora da casa, até os aparelhos eletrônicos e fazem com que eles funcionem, guardadas as devidas proporções os neurônios agem como se fossem os fios condutores da energia elétrica dentro do cérebro. Eles levam a informação recebida através do meio externo, até o local exato onde essa informação deverá ser decodificada para que então o “aparelho” específico funcione da forma correta.  Ele recebe essas informações através dos olhos, dos ouvidos, da pele e essa informação é quase que instantaneamente transmitida pelas sinapses cerebrais até a “fonte” geradora do comportamento ou movimento.
Porém, para que possa decodificar essa informação, o cérebro vai utilizar informações que já possui de alguma maneira. Por isso, por exemplo, a criança não consegue aprender a escrever antes que seu cérebro tenha, entre outras coisas, informações suficientes sobre o ambiente que a cerca, pois a partir daí poderá ter subsídios de levar a informação sensorial para a parte motora. Por isso que para adultos é mais fácil aprender a ler e escrever baseando-se em palavras que eles utilizam no dia a dia e com as quais estão acostumados. Assim os caminhos que o cérebro vai utilizar para o aprendizado são, digamos, mais “fáceis”. É o que se chama de associação ou associação de imagens e informações.
É fácil entender esse tipo de situação quando, por exemplo, passamos por uma situação traumática e naquele momento está tocando uma determinada música. Nunca mais vamos conseguir ouvir aquela música sem associa-la à situação ruim. Ou quando comemos uma comida que nos faz passar mal, mesmo que nos seja oferecida a mesma comida de ótima qualidade, nunca mais vamos conseguir comê-la
Para que se dê a aprendizagem, quanto mais executamos uma ação, mais fácil ela se torna. É aquela premissa de que a repetição leva à perfeição, exatamente porque quanto mais a passagem da informação se repete, mais são reforçadas as conexões do neurônio que fazem parte desse caminho. Segundo Sidarta Ribeiro “Dependendo dos tipos de neurotransmissores e receptores envolvidos, tal processo pode determinar tanto a excitação quanto a inibição das células pós-sinápticas.” 
Sendo assim, quanto mais o cérebro repete uma informação recebida, mais rápida essa informação será processada e menos dificuldade encontrará para processá-la. Isso pode ser positivo ou negativo. Digamos que alguém está aprendendo a tocar um instrumento: quanto mais ela repetir a ação de tocar, mais fácil será para o cérebro reconhecer as notas e sua correspondência na pressão dos dedos em locais específicos desse instrumento, levando à perfeição. Mas digamos que uma pessoa tenha pensamentos negativos recorrentes sobre uma determinada situação. Quanto mais ela pensar daquela forma, mais negativos serão os pensamentos (reforçados pelas sinapses) e mais aquela determinada situação lhe parecerá negativa ou impossível de ser resolvida. Essa é a chamada Potencialização de Longo Prazo ou LTP.
Em outra instância, temos a LTD: depressão de longo prazo. Após uma atividade intensa do cérebro, ele perde um pouco sua capacidade de assimilação ou memória. É como se fosse uma fadiga, onde necessita espaço para que possa continuar aprendendo. Nesse sentido, o esquecimento de algumas situações ou mesmo de aprendizagens torna-se necessária. Segundo o site Biblioteca Virtual em Saúde, nos descritores de ciências e saúde a LTD é a “diminuição persistente da eficácia sináptica entre NEURÔNIOS dependente da atividade. Geralmente ocorre após estimulação aferente repetitiva e de baixa frequência, mas pode ser induzida por outros métodos. A depressão de longo prazo parece desempenhar um papel na MEMÓRIA.” Em outras palavras, o cérebro vai abrindo espaço para o que utiliza com mais frequência e vai guardando as memórias que não utiliza com tanta frequência. Porém, a não ser em casos de traumas ou doenças especificas, mesmo essas memórias “guardadas” não são totalmente descartadas. É mais ou menos como se fossem os dados de um HD de computador. Os arquivos que são usados constantemente (LTP) ficam mais fáceis de serem acessados devido ao sistema de indexação, enquanto os arquivos menos usados (LTD) ficam guardados e tem um acesso um pouco mais demorado, pois ficam fora da indexação rápida. 

Os impulsos neuronais passam por diversos neurônios pelo cérebro e não estão concentrados em apenas um ou outro neurônio especificamente. Devido a isso, o cérebro pode “reaprender” tarefas que já sabia executar, mesmo quando sofre grandes lesões. Quanto maior a lesão e quanto mais complexa a tarefa, mais difícil fica de reaprender, mas ainda assim consegue recuperar algum tipo de informação.
Podemos então, dizer que quando somos solicitados a realizar operações matemáticas somente por meio do pensamento (ou “de cabeça” como se diz popularmente), nosso cérebro ativa um caminho onde o processamento sensorial começa processando informações específicas, menos abrangentes, para depois formar uma imagem completa, mais abrangente. Porém, de alguma maneira o cérebro processará essas informações de acordo com as informações que já possui, pois teoricamente todos nós aprendemos muito cedo a realizar operações matemáticas. Porém, o tempo de cada pessoa para a realização dessas operações, partindo-se do princípio de que não haja nenhum problema que impeça a realização da tarefa num nível abstrato, será maior ou menor, pois depende do quanto seu cérebro é treinado para realizar operações matemáticas. Quanto mais treinado for o cérebro, mais conexões favoráveis a essas operações ele terá, e mais rápido será o tempo de resposta para as operações matemáticas. Uma pessoa que não está acostumada a usar seu cérebro nessa área, demorará um tempo maior, o que é normal e esperado.
Da mesma forma podemos dizer que ao sermos solicitados a pensar numa ferramenta, pensamos naquela ferramenta com a qual mais tivemos contato na vida, seja de forma real ou abstrata, mas de alguma maneira essa ferramenta esteve em nossa mente mais vezes do que outra. No caso especifico do martelo, como o próprio texto diz, isso ocorre porque é a ferramenta que estamos acostumados a ver em casa desde crianças, ou até mesmo nos desenhos animados, nos livros escolares, etc. Dessa forma, a memória mais forte que temos de uma ferramenta é o martelo. Talvez para um agricultor, seja uma enxada ou um ancinho, porque seria a informação mais estimulada em sua memória. E pensamos primeiro na forma e depois na cor porque esse é o caminho que informação faz em nosso cérebro.
Dessa maneira, podemos dizer que o aprendizado depende da forma como nosso cérebro é estimulado positivamente sobre determinado assunto mas não apenas isso. A aprendizagem se dá também de acordo com as emoções envolvidas nessa aprendizagem. Ainda voltando ao exemplo da atividade, pode ser que muitos de nós não consigamos resolver operações matemáticas porque as memórias que temos dos tempos escolares, onde os números pareciam irremediavelmente impossíveis de resolver, tenham nos trazido memórias afetivas negativas a respeito e por isso, prejudicado nossa aprendizagem. Mas, por outro lado, sempre temos uma disciplina que gostamos mais ou nos interessamos mais, e provavelmente essa é aquela não apenas que conseguíamos compreender melhor, mas também aquela cujo professor era o mais querido da turma. Portanto, a forma como o cérebro se comporta no processo de aprendizagem e memoria envolve inúmeros processos complexos, muitos já conhecidos e outros que ainda vem sendo profundamente estudados pelos cientistas.


REFERÊNCIAS

RIBEIRO, Sidarta. Artigo: O mosaico das memórias. Scientific American – Mente e Corpo Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_mosaico_das_memorias.html - acesso em 13/07/2014

Biblioteca Virtual de Saúde – Descritores em Ciência da Saúde. Depressão Sináptica de Longo Prazo. Disponível em http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgi-bin/decsserver/decsserver.xis&task=exact_term&previous_page=homepage&interface_language=p&search_language=p&search_exp=Depress%E3o%20Sin%E1ptica%20de%20Longo%20Prazo – acesso em 13/07/2014

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