O sistema nervoso é composto de um
intrincado processo de envio de informações, que nada mais são do que impulsos
elétricos e atividades químicas. Esses impulsos são enviados para as partes
cerebrais que correspondem a cada tarefa ou pensamento que o indivíduo pretende
realizar e isso é feito através dos neurônios. Da mesma forma que em nossa casa
temos tomadas e fios, que conduzem a energia que vem do poste, do lado de fora
da casa, até os aparelhos eletrônicos e fazem com que eles funcionem, guardadas
as devidas proporções os neurônios agem como se fossem os fios condutores da
energia elétrica dentro do cérebro. Eles levam a informação recebida através do
meio externo, até o local exato onde essa informação deverá ser decodificada
para que então o “aparelho” específico funcione da forma correta. Ele recebe essas informações através dos
olhos, dos ouvidos, da pele e essa informação é quase que instantaneamente
transmitida pelas sinapses cerebrais até a “fonte” geradora do comportamento ou
movimento.
Porém, para que possa decodificar
essa informação, o cérebro vai utilizar informações que já possui de alguma
maneira. Por isso, por exemplo, a criança não consegue aprender a escrever
antes que seu cérebro tenha, entre outras coisas, informações suficientes sobre
o ambiente que a cerca, pois a partir daí poderá ter subsídios de levar a
informação sensorial para a parte motora. Por isso que para adultos é mais
fácil aprender a ler e escrever baseando-se em palavras que eles utilizam no
dia a dia e com as quais estão acostumados. Assim os caminhos que o cérebro vai
utilizar para o aprendizado são, digamos, mais “fáceis”. É o que se chama de
associação ou associação de imagens e informações.
É fácil entender esse tipo de
situação quando, por exemplo, passamos por uma situação traumática e naquele
momento está tocando uma determinada música. Nunca mais vamos conseguir ouvir
aquela música sem associa-la à situação ruim. Ou quando comemos uma comida que
nos faz passar mal, mesmo que nos seja oferecida a mesma comida de ótima
qualidade, nunca mais vamos conseguir comê-la
Para que se dê a aprendizagem, quanto
mais executamos uma ação, mais fácil ela se torna. É aquela premissa de que a
repetição leva à perfeição, exatamente porque quanto mais a passagem da
informação se repete, mais são reforçadas as conexões do neurônio que fazem
parte desse caminho. Segundo Sidarta Ribeiro “Dependendo dos tipos de
neurotransmissores e receptores envolvidos, tal processo pode determinar tanto
a excitação quanto a inibição das células pós-sinápticas.”
Sendo assim, quanto mais o cérebro
repete uma informação recebida, mais rápida essa informação será processada e
menos dificuldade encontrará para processá-la. Isso pode ser positivo ou negativo.
Digamos que alguém está aprendendo a tocar um instrumento: quanto mais ela
repetir a ação de tocar, mais fácil será para o cérebro reconhecer as notas e
sua correspondência na pressão dos dedos em locais específicos desse
instrumento, levando à perfeição. Mas digamos que uma pessoa tenha pensamentos
negativos recorrentes sobre uma determinada situação. Quanto mais ela pensar
daquela forma, mais negativos serão os pensamentos (reforçados pelas sinapses)
e mais aquela determinada situação lhe parecerá negativa ou impossível de ser
resolvida. Essa é a chamada Potencialização de Longo Prazo ou LTP.
Em outra instância, temos a LTD: depressão
de longo prazo. Após uma atividade intensa do cérebro, ele perde um pouco sua
capacidade de assimilação ou memória. É como se fosse uma fadiga, onde
necessita espaço para que possa continuar aprendendo. Nesse sentido, o
esquecimento de algumas situações ou mesmo de aprendizagens torna-se
necessária. Segundo o site Biblioteca Virtual em Saúde, nos descritores de
ciências e saúde a LTD é a “diminuição persistente
da eficácia sináptica entre NEURÔNIOS dependente da
atividade. Geralmente ocorre após estimulação aferente repetitiva e de baixa
frequência, mas pode ser induzida por outros métodos.
A depressão de longo prazo parece desempenhar
um papel na MEMÓRIA.” Em outras palavras, o cérebro vai abrindo
espaço para o que utiliza com mais frequência e vai guardando as memórias que
não utiliza com tanta frequência. Porém, a não ser em casos de traumas ou
doenças especificas, mesmo essas memórias “guardadas” não são totalmente
descartadas. É mais ou menos como se fossem os dados de um HD de computador. Os
arquivos que são usados constantemente (LTP) ficam mais fáceis de serem
acessados devido ao sistema de indexação, enquanto os arquivos menos usados
(LTD) ficam guardados e tem um acesso um pouco mais demorado, pois ficam fora
da indexação rápida.
Os impulsos neuronais passam por
diversos neurônios pelo cérebro e não estão concentrados em apenas um ou outro
neurônio especificamente. Devido a isso, o cérebro pode “reaprender” tarefas
que já sabia executar, mesmo quando sofre grandes lesões. Quanto maior a lesão
e quanto mais complexa a tarefa, mais difícil fica de reaprender, mas ainda
assim consegue recuperar algum tipo de informação.
Podemos então, dizer que quando somos
solicitados a realizar operações matemáticas somente por meio do pensamento (ou
“de cabeça” como se diz popularmente), nosso cérebro ativa um caminho onde o processamento sensorial começa
processando informações específicas, menos abrangentes, para depois formar uma
imagem completa, mais abrangente. Porém, de alguma maneira o cérebro processará
essas informações de acordo com as informações que já possui, pois teoricamente
todos nós aprendemos muito cedo a realizar operações matemáticas. Porém, o
tempo de cada pessoa para a realização dessas operações, partindo-se do
princípio de que não haja nenhum problema que impeça a realização da tarefa num
nível abstrato, será maior ou menor, pois depende do quanto seu cérebro é
treinado para realizar operações matemáticas. Quanto mais treinado for o
cérebro, mais conexões favoráveis a essas operações ele terá, e mais rápido
será o tempo de resposta para as operações matemáticas. Uma pessoa que não está
acostumada a usar seu cérebro nessa área, demorará um tempo maior, o que é
normal e esperado.
Da mesma forma
podemos dizer que ao sermos solicitados a pensar numa ferramenta, pensamos
naquela ferramenta com a qual mais tivemos contato na vida, seja de forma real
ou abstrata, mas de alguma maneira essa ferramenta esteve em nossa mente mais
vezes do que outra. No caso especifico do martelo, como o próprio texto diz,
isso ocorre porque é a ferramenta que estamos acostumados a ver em casa desde
crianças, ou até mesmo nos desenhos animados, nos livros escolares, etc. Dessa
forma, a memória mais forte que temos de uma ferramenta é o martelo. Talvez
para um agricultor, seja uma enxada ou um ancinho, porque seria a informação
mais estimulada em sua memória. E pensamos primeiro na forma e depois na cor
porque esse é o caminho que informação faz em nosso cérebro.
Dessa maneira,
podemos dizer que o aprendizado depende da forma como nosso cérebro é
estimulado positivamente sobre determinado assunto mas não apenas isso. A
aprendizagem se dá também de acordo com as emoções envolvidas nessa
aprendizagem. Ainda voltando ao exemplo da atividade, pode ser que muitos de
nós não consigamos resolver operações matemáticas porque as memórias que temos
dos tempos escolares, onde os números pareciam irremediavelmente impossíveis de
resolver, tenham nos trazido memórias afetivas negativas a respeito e por isso,
prejudicado nossa aprendizagem. Mas, por outro lado, sempre temos uma
disciplina que gostamos mais ou nos interessamos mais, e provavelmente essa é
aquela não apenas que conseguíamos compreender melhor, mas também aquela cujo
professor era o mais querido da turma. Portanto, a forma como o cérebro se
comporta no processo de aprendizagem e memoria envolve inúmeros processos
complexos, muitos já conhecidos e outros que ainda vem sendo profundamente
estudados pelos cientistas.
REFERÊNCIAS
RIBEIRO, Sidarta. Artigo: O mosaico das memórias. Scientific
American – Mente e Corpo Disponível
em http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_mosaico_das_memorias.html -
acesso em 13/07/2014
Biblioteca Virtual de Saúde –
Descritores em Ciência da Saúde. Depressão
Sináptica de Longo Prazo. Disponível em http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgi-bin/decsserver/decsserver.xis&task=exact_term&previous_page=homepage&interface_language=p&search_language=p&search_exp=Depress%E3o%20Sin%E1ptica%20de%20Longo%20Prazo – acesso em 13/07/2014
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