sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sete mitos sobre a educação e transtornos de aprendizagem na criança

Gostaria de falar um pouco sobre alguns mitos muito comuns a respeito da educação e dos transtornos de aprendizagem na criança. São coisas que ouvimos todos os dias, são repetidas constantemente, porém fazem parte apenas do senso comum, não necessariamente refletindo uma realidade. Vamos a eles.

MITO 1: A culpa é sempre dos pais.
Embora os pais, e principalmente a mãe tenham um papel importantíssimo na formação afetivo-emocional e educacional da criança, nem todos os problemas que a criança vai apresentar são culpa dos pais.
Aliás, falar em culpa é imputar aos pais uma responsabilidade que eles não possuem, pois mesmo que geneticamente alguma doença ou algum transtorno tenha sido transmitido, ainda assim não é adequado falar em culpabilidade, pois tratamos de algo que foge à capacidade de controle de qualquer pessoa. Dessa forma, dizer que a criança não aprende porque a culpa é dos pais que não forçam, não educam, não estimulam, ou seja por que motivo for, não é verdade. Nem todos os pais são negligentes com seus filhos e muitas vezes, mesmo cercando a criança de cuidados e atenção, ela não aprende e não se desenvolve, pois os motivos vão além da educação ou da falta dela.

MITO 2: Crianças com transtornos de aprendizagem nunca conseguirão ter um bom desempenho escolar.
Mesmo crianças que tenham algum tipo de transtorno de desenvolvimento que influencie em sua aprendizagem podem vir a ter um bom desempenho escolar, desde que o problema seja detectado precocemente e essa criança seja acompanhada por um profissional que cuidará de seu desenvolvimento. Por isso é muito importante que o professor esteja atento aos seus alunos e a suas mudanças de comportamento ou dificuldades de aprendizagem, bem como os pais devem procurar ajuda de um profissional de saúde quando desconfiarem de que alguma coisa está errada com seu filho.

MITO 3: Crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) são limitadas e por isso não precisam ser estimuladas.
Crianças com TEA precisam e devem ser estimuladas sim, como qualquer outra criança, pois além de terem o direito de estarem em uma escola regular e participar do processo de aprendizagem normalmente, têm condições de se desenvolverem mesmo que dentro de algumas limitações. Ser portador de TEA não é sinônimo de falta de inteligências. Existem diversos graus de autismo e crianças com essa condição devidamente tratadas, podem desenvolver muitas habilidades e, inclusive, ter inteligência acima da média. Portanto, além do atendimento multiprofissional adequado, crianças portadoras de TEA precisam de apoio adequado dentro da sala de aula e da escola como um todo.

MITO 4: TDAH é uma doença inventada.
Como vimos, o TDAH não é uma doença inventada, nem mesmo é uma doença e sim, um transtorno. Existem indícios de que crianças com TDAH tenham sido identificadas já na Grécia antiga e mais tarde, no século XIX foram tratadas como crianças portadoras de distúrbios de comportamento. 

Existem ainda algumas controvérsias sobre o grande abuso de medicamentos para tratar o TDAH e muitos estudos vem sendo feitos na área da neurologia e da neuropsicologia, porém o que já se sabe é que o cérebro do portador de TDAH apresenta mudanças reais, se comparado ao cérebro de não portadores. Portanto, o TDAH não é uma doença inventada  e quanto mais esse transtorno for divulgado e estudado, menos crianças e adultos sofrerão por não encontrarem tratamento adequado para suas dificuldades.

MITO 5: Criança que não quer estudar deve ser castigada, pois se trata apenas de preguiça.
A criança que tem resistência a ir à escola ou a estudar pode estar enfrentando problemas reais com os quais não consegue lidar sozinha e ao invés de castigos, gritos, agressão, necessita de ajuda profissional.
Pressão por parte de professores e pais não vai fazer com que essa criança se dedique mais aos estudos ou tenha vontade real de ir à escola. Pelo contrário, esse tipo de comportamento dos adultos fará com que a criança resista cada vez mais às atividades escolares e tenha cada vez menos capacidade de se desenvolver satisfatoriamente.
Cabe aos adultos – professores e pais – perceberem quando se trata de comportamentos inerentes à faixa etária da criança ou comportamentos que fogem ao padrão esperado. Embora essa seja uma linha tênue, é saber fazer essa distinção que vai fazer a diferença entre o fracasso e o sucesso da criança.

MITO 6: Medicar a criança a fará ficar dependente.
Na verdade atualmente os medicamentos estão bastante modificados e raramente causam dependência, sobretudo os que são voltados à pediatria.
Nem sempre a criança precisa ser medicada mas muitas vezes a medicação regula o comportamento, diminui a falta de concentração, a irritabilidade, a agitação, entre outros sintomas. Porém, qualquer que seja o caso somente um médico neuropediatra ou psiquiatra infantil poderá decidir qual é o melhor tratamento para cada síndrome, transtorno ou doença da criança.

MITO 7: Somente a medicação basta.
Esse é um mito bastante divulgado principalmente no meio médico, mas o fato é que embora a medicação seja um meio de controle, em alguns casos não traz a cura porque existem transtornos que ainda não são curáveis.
O que ocorre é que a maioria das crianças que apresentam transtornos do desenvolvimento que prejudicam seu desempenho escolar acabam desenvolvendo o que se chama de comorbidades, ou seja, doenças paralelas. Por exemplo: uma criança que sofre bullying poderá tornar-se apática, depressiva ou irritadiça e agressiva. Quando isso ocorre é preciso investigar para saber o que de fato está causando esses sintomas na criança e resolve-los por meio de intervenção psicológica, neuropsicológica ou psicopedagógica. Na grande maioria dos casos a medicação sozinha não cura, apenas regula. Terapia traz à tona os conflitos e aí sim, as questões que de fato incomodam a criança poderão ser tratadas.

Em todos os casos é aconselhável que a criança seja cuidada por uma equipe multidisciplinar, formada por médico, psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo, conforme o caso e o grau de comprometimento para que possa se desenvolver, ainda que apresentando alguma condição que possa dificultar seu desenvolvimento dito normal.


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O trabalho Sete mitos sobre a educação e transtornos de aprendizagem na criança de Desirée dos Reis Sergente está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://alminquieta.blogspot.com.br/2014/11/sete-mitos-sobre-educacao-e-transtornos.html.

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