terça-feira, 17 de outubro de 2017

O imaginário feminino em Outlander (contém spoilers)




Outlander é uma novela da escritora americana Diana Gabaldon. Na história a protagonista Claire, uma mulher de 27 anos que vive na década de 1940, viaja até a Escócia em segunda lua de mel com seu marido Frank, logo após o término da II Guerra Mundial. Lá, entre mitos e lendas, entre druidas e fantasmas, Claire acaba por realizar uma viagem no tempo através das pedras de Craig na Dun, indo parar no ano 1743, numa realidade completamente diferente da sua. Ao chegar no passado ela conhece o terrível Black Jack Randall, o tataravô antepassado de seu marido Frank, e Jamie Fraser, por quem acaba se apaixonando e em quem a história toda acaba orbitando.
Os primeiros livros foram escritos na década de 1990 mas a primeira temporada da série de TV foi filmada entre 2014/2015 pela Starz, tendo Sam Heugham como Jamie e Caitriona Balfe como Claire. A segunda temporada foi exibida em 2016 e a terceira temporada está em andamento desde setembro de 2017.
Outlander está longe de ser uma história de amor nos moldes romanceados de Jane Austen mas tem mexido fortemente com o imáginário feminino, mesmo sendo permeada por momentos de extrema violência e crueldade.
Por que será que no ano de 2017 e em pleno século XXI onde o feminismo está cada vez mais forte e a luta das mulheres por liberdade e direitos iguais cresce dia a dia, Outlander e seu protagonista James (Jamie) Fraser, um guerreiro highlander machista, fazem tanto sucesso com as mulheres como fazia quando as histórias iniciais foram escritas, na década de 1990?
Acredito que a reposta não esteja em Jamie propriamente dito, mas na personagem feminina Claire.
Apesar de ser uma mulher do século XX e em sua época original também enfrentar o machismo e o preconceito, Claire nunca aceitou esse tipo de limitação ou imposição. Sempre foi uma mulher à frente de seu tempo tendo sido criada pelo tio, um Arqueólogo que nunca exigiu dela atitudes e comportamentos de “menininha”. Ao invés disso, Claire viveu em diversos lugares do mundo, dormiu ao relento, aprendeu a sobreviver na selva, aprendeu a ser forte diante das dificuldades e a não depender de ninguém, principalmente de um homem.
Claire nunca teve uma vida comum e monótona e transporta essa característica para o século XVIII, onde não aceita as imposições feitas à mulher da época.
Porém, mesmo com todas essas características, se apaixona pelo guerreiro Jamie, um homem alto, forte, ruivo, mais novo que ela e virgem com quem é obrigada a se casar para não ser capturada por Black Jack Randal.
Apesar de seu lado machista, resultado da educação que recebeu de seu pai, de seu padrinho e de seus tios, Jamie é gentil e carinhoso, muitas vezes se apresentando como um menino frágil. Porém é igualmente protetor, salvando-a e protegendo-a de todo tipo de perigo e adversidade.
A vida com Jamie nunca será monótona. O casal passa por inúmeros problemas e dificuldades, o que reforça ainda mais os laços entre eles. Quanto mais problemas, mais apaixonados e unidos eles se tornam. 
Outro ponto crucial na vida do casal é o sexo. De uma forma ou de outra, Jamie e Claire conseguem resolver todas as suas diferenças na cama, onde também não há monotonia. Entre eles o sexo nunca é igual, podendo ser selvagem ou a mais amável e tranquila das transas. Jamie e Claire são a representação do par perfeito, sem serem piegas ou cliché.
Apesar de amar e respeitar Jamie, Claire nunca se furta de se impor como mulher e ser humano livre e autônomo. Entretanto, sabe como ninguém quando ceder aos desejos de Jamie e até mesmo obedece-lo, se for necessário.
Claire jamais conseguiria viver uma vida monótona e tranquila de dona de casa comum. Jamais conseguiria se contentar com um marido que suprisse todas as suas necessidades enquanto ela ficaria em casa cuidando dos filhos, no século XVIII ou no século XX. Prova disso é que ao voltar ao século XX, antes da batalha de Culloden, Claire tenta retomar seu casamento com Frank mas não consegue. A vida que Frank lhe oferece é pacata demais, monótona demais, segura demais. Claire é inquieta, ativa, altiva, malcriada, segura de si, proativa. Ela precisa de mais, sempre mais. Por isso decide quebrar todas as regras e se tornar uma médica cirurgiã numa época em que as mulheres sequer frequentavam as universidades. Por isso a vida com Jamie era tão excitante e desejada, porque Claire podia ser plena naquele cenário de aventuras, perigos e amor.
Por outro lado, a vida com Jamie permite que Claire exercite também o oposto de sua personalidade positivamente agressiva, dando vazão a seu lado maternal, cuidadora, pois é ela quem está sempre cuidando dele, tratando de suas feridas, ensinando-o e ajudando-o a crescer e ser uma pessoa melhor. Essa é mais uma característica da personalidade dela.
Claire é a representação arquetípica do feminino em vários níveis.
O universo de Claire é o universo que a maioria das mulheres ainda sonha para si: ser livre, viver uma vida sem monotonia, crescer profissionalmente e ainda assim ter ao seu lado um homem que seja capaz de faze-la se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, satisfaze-la sexualmente, viver com ela as mais diversas aventuras, aceitando-a, compreendendo-a e protegendo-a.
As mulheres amam James Fraser, mas certamente amam muito mais Claire Beauchamp que traz consigo o retrato da mulher moderna - empoderada e dona de si, que não aceita se anular por ninguém, nem deixar de viver seus sonhos e seus desejos - embebido no imaginário feminino de viver um grande amor que sobreviva ao tempo e à distância.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Usando jogos: Imagine-me

É muito bom quando a gente consegue dicas legais na internet, não é?
Tem um site muito bom que eu sigo, o Reab, que sempre traz informações preciosas sobre material, procedimentos e muitas novidades.
Foi lá que eu vi esse jogo, o Imagine-me, achei muito interessante e por isso quero dividir com vocês esse instrumento que permite várias aplicações.
O Imagine-me é um jogo de cartas que estimula a imaginação sugerindo a criação de desenhos divertidos e que pode ser usado com crianças, adolescentes ou adultos.
Mas não para por aí.
O Imagine-me é um importante instrumento para trabalhar a compreensão leitora, a memória de trabalho, a motricidade, entre outros.
As cartas são divididas em três categorias: cabeça, corpo e pernas. Em cada categoria está indicado o que deve ser desenhado. Por exemplo: "tem a cabeça grande com olhos redondos, cabelos compridos e usa um chapéu de chifres".
A pessoa junta as três cartas e constrói a sua criatura de acordo com as instruções. Esse construir pode ser por meio de desenho, pintura, modelagem em massa ou argila.
Poderíamos parar por aí e já seria bem legal, mas podemos ir um pouco mais além e pedir que a criança, por exemplo, represente como ela imagina que sua criatura andaria, sentaria, se moveria, como ela falaria, se seria uma criatura boa ou má, enfim, as possibilidades são inúmeras e promove em nós, terapeutas, também o exercício da criatividade.
Use!


terça-feira, 25 de abril de 2017

O suicídio entre crianças e jovens



Gustav Klimt - A vida e a Morte

Seguindo a série de artigos sobre suicídio, vou falar hoje sobre o suicídio entre crianças e jovens.

Lembro-me de quando Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, cometeu suicídio. Naquela semana, pelo menos 68 jovens tiraram suas vidas imitando o ídolo. Mas essa não foi a primeira vez em que jovens cometeram suicídio por imitação. Quando Goethe lançou seu livro Werther, em 1774, ocorreu uma onda de suicídio entre os jovens que se identificaram com o personagem principal, que se mata por amor no final do livro. O caso foi considerado tão grave que o livro foi tirado de circulação.

Muitos outros casos constam na História, o que nos faz compreender que, por mais estranho e incompreensível que possa parecer, sim, os jovens cometem suicídio por imitação, por identificação, por homenagem a um ídolo, como também podem tirar a própria vida por depressão, bullying, stress, pressões excessivas, entre outros motivos.
Segundo dados do Mapa da Violência, organizado pelo Ministério da Saúde, de 2002 a 2012 o número de suicídios entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos aumentou 40%. Criador do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz destaca que o suicídio também cresce no conjunto da população brasileira. A taxa aumentou 60% desde 1980. Segundo a BBC Brasil, em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária entre 15 e 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000. Assim, entre 1980 a 2014, houve um crescimento de 27,2%. 

Isso é um aumento bastante significativo e devemos nos perguntar por que tantas crianças e tantos adolescentes escolhem tirar a própria vida quando ela está apenas começando.

Em primeiro lugar precisamos entender que ninguém que esteja mentalmente sadio, completamente feliz e satisfeito com a própria existência pensa em morrer. A morte pode aparecer como "solução" para quem não enxerga mais nenhuma saída para o próprio sofrimento. E não nos cabe dizer que o que a pessoa sente é muito pouco para pensar em se matar, porque cada um vivencia o sofrimento e a dor de forma muito própria e particular. Portanto, dizer que a pessoa é fraca, que quer chamar a atenção e outras tantas coisas que costumamos ouvir e até mesmo dizer muitas vezes, não reflete a verdade dessas pessoas, tampouco as ajuda a se recuperar de sua condição.

Os jovens e as crianças, via de regra, não estão completamente preparados para lidar com o sofrimento e com as pressões, portanto situações como bullying, o cyberbullying, a perda de entes queridos, stress constante, dores físicas podem ser fatores desencadeantes para o desejo de morte. Segundo Evelyn Kuczynski, um estudo que analisou 37 pesquisas mundiais identifica o bullying como uma das principais causas do suicídio de crianças e adolescentes, sendo o suicídio a terceira maior causa de mortalidade no mundo nesta faixa etária, atrás apenas dos acidentes de trânsito e homicídios. 

O suicídio é mais comum em adolescentes a partir dos 15 anos de idade, porém há casos em que crianças tiram suas próprias vidas. Esses casos, entretanto, são raros devido ao próprio desenvolvimento do conceito de morte em cada faixa etária, além da capacidade de planejamento, ideação, etc, a que a criança tem acesso dependendo de sua idade. 
É bastante frequente que os casos de suicídio estejam acompanhados de transtornos mentais, mas os casos onde não existe nenhum transtorno associado também acontecem. 

É preciso saber que crianças já bem pequenas podem apresentar sintomas de depressão ou de tendência à auto-destruição. Porém, muitas vezes os pais não conseguem identificar esses sintomas, pois eles podem ser facilmente confundidos com "coisa de criança", birra, malcriação, irritabilidade, etc. Estamos acostumados a associar a depressão a uma profunda tristeza, mas não é apenas dessa maneira que ela se manifesta. Uma pessoa muito irritada, muito agressiva, constantemente cansada também pode estar apresentando sintomas depressivos e não tão facilmente identificáveis.

Os adolescentes, devido a toda a série de mudanças físicas e psíquicas às quais passam, estão mais propensos a terem sintomas depressivos que podem ser mais ou menos patológicos, ou, em outros termos, que podem ser considerados mais ou menos "normais', de acordo com a maneira como se apresentam. 

Embora a depressão seja uma patologia com mudanças biológicas no cérebro, ela pode se apresentar com maior ou menor intensidade de acordo com o ambiente em que a criança ou o adolescente vivem.

Podemos citar alguns sinais de alerta para os sintomas depressivos em crianças e jovens:

Na infância:

  1. a criança que não brinca ou o faz sempre sozinha
  2. agitação excessiva, 
  3. quedas frequentes,
  4. infecções
  5. problemas com apetite. 
Na adolescência:
  1. ausência de relações sociais,
  2. improdutividade escolar, 
  3. agressividade ou agitação excessiva,
  4. mudanças abruptas de humor, 
  5. irritabilidade,
  6. ansiedade
  7. auto-mutilação (cortar-se, arrancar os cabelos ou pelos do corpo, por exemplo)
  8. uso abusivo de álcool
  9. uso de drogas
  10. passar longas horas conectado ao computador e evitar contato no mundo real
Segundo a OMS, os fatores de risco para o suicídio infanto-juvenil são:

depressão

histórico familiar de suicídio

uso de álcool e drogas na família ou pelo jovem 

abuso

acesso ao instrumento

bullying

estresse

pressão interna

dificuldade de interação social


Importante salientar que esses são apenas alguns sinais. Por isso é muito importante que os pais estejam sempre atentos a seus filhos e ao comportamento que eles apresentam. Monitorar o que seus filhos fazem, com quem se relacionam, observar seu dia a dia, olhar seus livros escolares, perguntar sobre seus interesses, tudo isso e muito mais traz importantes informações aos pais sobre como está a saúde mental de seus filhos, como anda seu humor, se há mudanças importantes em seu comportamento.

E se notar alguma mudança abrupta na forma como seu filho se comporta, procure um médico, converse com um psiquiatra ou um psicólogo, procure algum tipo de ajuda, pois o diagnóstico desses casos é complexo, difícil e quanto antes o problema for identificado e tratado, menores serão os danos causados tanto à criança ou ao jovem, quanto à sua família.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

O suicídio como caminho: 13 Reasons Why e a Baleia Azul



Nas ultimas semanas temos sido bombardeados por notícias referentes ao jogo Baleia Azul e como ele estaria levando jovens ao suicídio. Também esteve presente nas mídias, comentários e matérias a respeito da série do Netflix “13 reasons why” ou "Os 13 motivos", em português. Mas será que essas duas histórias podem ter alguma coisa em comum? É justamente sobre isso que eu quero falar com vocês hoje. 

Tanto o jogo da Baleia Azul quanto a série tratam da temática do suicídio entre os jovens, coisa que tem aumentado imensamente no mundo todo e que, ao que parece, tem deixado pais, educadores e até mesmo profissionais de saúde mental um pouco confusos a respeito dos motivos e de como tratar essa epidemia.

Eu pretendo voltar à temática do suicídio e da depressão entre os jovens nas próximas postagens para que possamos entender melhor toda essa realidade, mas hoje eu quero falar de um dos pontos que eu considero mais importante nessa temática e que vou tratar nesse primeiro artigo sobre o suicídio, que diz respeito a como os jovens têm sido negligenciados pela família, pela escola e pela sociedade. Se nós pensarmos a respeito do que tem sido divulgado sobre o jogo da Baleia Azul, se ele realmente existir, devemos pensar em como é possível que um jovem se mutile, saia de casa de madrugada para cumprir tarefas, passe o dia assistindo a filmes de terror sem que seus pais tomem conhecimento disso. Se isso for mesmo real, que tipo de família tem esses jovens? Que tipos de pais são esses que são incapazes de perceber mudanças tão graves, sérias e drásticas na rotina e na vida de seus filhos? Será que isso é mesmo possível?

Em 13 reasons why é justamente esse tipo de situação que é abordada. A jovem Hanna começa a ser vítima de bullying na escola que, posteriormente passa a algo mais sério como assédio sexual e moral e, sentindo-se assustada, sozinha e acuada, sem comunicar a ninguém seu sofrimento e sem enxergar nenhuma outra saída, completamente desesperançada, acaba cometendo suicídio. Seus pais não enxergam as mudanças que ocorriam com sua filha ao longo dos meses de sofrimento e mesmo após a morte da jovem, muitos outros pais eram incapazes de olhar para seus filhos de forma profunda e cuidadosa. Infelizmente essa é a realidade de muitas famílias: filhos isolados em seus mundos, na internet, em seus tablets e celulares, e pais igualmente isolados em seu próprio mundo de trabalho, redes sociais, etc, sem que haja comunicação real, aquela do olho no olho que é tão importante para todo mundo. Esses jovens, muitas vezes com tempo ocioso demais e maturidade de menos, acabam sentindo-se entediados, aborrecidos, negligenciados, perdidos e buscam apoio em grupos de outros jovens que não necessariamente lhes farão bem. Tem sido assim desde que o mundo é mundo: jovens rebeldes, jovens que procuram as drogas... enfim, acredito que a única novidade seja a de que hoje  em dia o acesso às redes sociais facilitou e muito a troca de informações entre os jovens, como também facilitou a divulgação de tudo o que é ruim e negativo.
Não podemos omitir o fato de que muitas famílias têm sim, negligenciado seus filhos e essa é uma responsabilidade que deverão assumir caso não queiram perder seus jovens, independente de jogos de suicídio serem ou não verdadeiros.

Precisamos também salientar o papel da escola e dos professores na questão do jogo Baleia Azul. Professores tem contato mais direto com seus alunos e podem ser capazes de identificar mudanças de comportamento, de rendimento escolar, faltas, etc. Portanto, são extremamente importantes na identificação de problemas. Na série do Netflix, após a morte da jovem Hanna os professores passam a se perguntar como puderam não notar as mudanças na garota, a forma como seu comportamento foi se transformando e o sofrimento pelo qual estavam passando.

A escola tem um papel crucial na vida do aluno, pois é lá que se pode identificar sua capacidade de socializar, de se comunicar, seus comportamentos, muito além da aprendizagem. A escola precisa estar atenta a seus alunos e fazer um trabalho conjunto com os pais para evitar tamanho sofrimento a esses jovens. Não se trata de a escola assumir um papel que seria da família, mas sim, agir em parceria.

Professores, educadores, diretores de escola, pais, todos precisam estar muito atentos. Conversar, instruir, mas acima de tudo, estar verdadeiramente aberto para ouvir, acolher, aceitar, compreender sem julgamentos, esse é o caminho. E não ter medo e nem vergonha de procurar ajuda profissional se perceberem que a coisa está mais difícil de lidar do que deveria.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Dica de Leitura

O post de hoje é para dar a dica de alguns livros muito importantes para quem trabalha com Educação, seja Psicólogo, Neuropsicólogo, Psicopedagogo ou Professor.
Não podemos mais descartar o papel das Neurociências e suas descobertas que tanto nos auxiliam na compreensão do desenvolvimento infantil, do funcionamento cerebral e na forma como ocorrem as aprendizagens. Sendo assim, considero esses livros como alguns dos must have da literatura neurocientífica que trata da Educação e da Aprendizagem.
São livros escritos por autores bastante conceituados e apesar de serem bastante técnicos, são de leitura agradável. Cada um deles traz um trabalho especial sobre as questões que envolvem a Educação e a Aprendizagem, mostrando o que pode influenciar nesse processo positiva ou negativamente, além de expor diversos tipos de trabalhos que vem sendo desenvolvidos pelo Brasil nessa área.
Estão facilmente disponíveis nas melhores livrarias físicas e também na internet.

Espero que gostem.


quinta-feira, 6 de abril de 2017

Jogos e seu uso terapêutico

Hoje eu gostaria de conversar com você a respeito do uso de jogos como recurso terapêutico, seja em Psicologia, Neuropsicologia, Psicopedagogia ou ainda no contexto escolar.
Os jogos são uma boa maneira de atingir uma série de objetivos de forma tranquila.
Durante o jogo o paciente se entrega à brincadeira e a terapia acontece de forma descontraída e com resultados bastante expressivos, sobretudo com crianças. Porém, o que para muitos pode parecer surpresa, adolescentes mais velhos e adultos também se sentem confortáveis em realizar jogos na terapia, interagindo de muito boa vontade com o recurso.
Eu vou deixar para você uma lista de alguns dos jogos que eu utilizo como recurso terapêutico e os objetivos que pretendo alcançar com cada um deles. Além dessas jogos, existem muitos outros que você pode utilizar, bastando apenas planejar os recursos que deseja que cada um deles ofereça a seus pacientes.
Vale lembrar ainda que muitas vezes planejamos o uso de um determinado instrumento na terapia do dia, mas nem sempre o paciente está de acordo conosco e precisamos então ter sempre um plano B, uma carta na manga para o caso de o paciente não render como o esperado ou não aceitar aquele recurso naquele dia, porque não vale forçar o paciente a realizar o que ele não deseja, já que se isso acontecer, não obteremos os resultados esperados, pois haverá um bloqueio por parte do paciente com relação à atividade aplicada.
É importante também que o jogo esteja adequado para faixa etária da pessoa com a qual você vai trabalhar, pois se for muito fácil ou muito difícil, poderá fazer com que seu paciente perca o interesse.
Dito isso, vamos aos jogos que eu escolhi para compartilhar com vocês.

KALEIDOS JÚNIOR



Kaleidos Junior é um jogo da Grow que lembra um pouco o Lince nos objetivos e na forma de jogar. Porém, a grande sacada do Kaleidos Junior são as pranchas lindamente desenhadas pela artista plástica francesa Elena Prette, que chamam muito a atenção de crianças, jovens e até mesmo de adultos. Vem também acompanhado de uma roleta onde constam as letras do alfabeto, cores e categorias de coisas (coisas frágeis, coisas macias, coisas que fazem barulho, etc). O terapeuta escolhe previamente o que vai utilizar na sessão, dependendo de seu objetivo. Por exemplo, se o objetivo estiver em trabalhar letramento, poderá utilizar as letras e fazer com que a criança procure em sua prancha todas as figuras que comecem com aquela letra. E assim por diante.
Cada participante recebe uma prancha com o mesmo desenho (podem jogar até quatro pessoas) e as fichas da mesma cor de suas pranchas (as bordas das pranchas tem cores diferentes). O ideal é que um jogador não tenha acesso visual à prancha do outro, para evitar a "cola".
Quando todos estiverem posicionados, um jogador roda a roleta, posiciona a ampulheta e se inicia a partida.
Assim que a ampulheta terminar de marcar o tempo, todos param e um de cada vez descreverá as figuras que marcou. De acordo com as respostas, o terapeuta poderá trabalhar os erros e os acertos da melhor maneira que quiser.
Você pode ainda utilizar as pranchas para trabalhar a criatividade e a imaginação, pedindo que o paciente escolha uma das pranchas e conte uma história sobre ela.
Esse jogo é maravilhoso como recurso terapêutico porque pode trabalhar:
  • atenção
  • concentração
  • alfabetização
  • transtornos de aprendizagem
  • reconhecimento de cores
  • acuidade visual
  • coordenação visomotora
  • controle inibitório
  • discriminação
  • raciocínio lógico
  • memória
  • imaginação
  • criatividade  
 Atualmente esse jogo custa por volta de R$ 69,00e é para jogadores a partir de 7 anos de idade.


BANCO IMOBILIÁRIO SUSTENTÁVEL



Essa é a mais nova versão do Banco Imobiliário, da Estrela. O que essa versão tem de legal é que é todinha sustentável, feita com plástico de cana de açúcar e papelão reciclado e o foco principal é, conforme informa a Revista Crescer "a educação ambiental. A versão ecológica foi resultado de uma parceria entre a Estrela, fabricante do jogo, e a Braskem, petroquímica brasileira especialista em resinas termoplásticas".
Eu uso o Banco Imobiliário Sustentável para trabalhar dificuldades de manuseio de dinheiro, contagem e cálculo matemático em geral. Ao lançar os dados, somar o valor e precisar calcular quantas casas precisa andar, a criança ou o adolescente precisara utilizar a soma. Ou ainda, precisará multiplicar o valor dos dados pela cota de uma determinada empresa para pagar um imposto, fazendo com que a criança ou o adolescente realize cálculos básicos Além disso, seguindo o objetivo principal do jogo, pode-se utiliza-lo para conscientização ambiental.
Como o jogo é longo, eu faço algumas adaptações para que caiba em uma hora de sessão, mas isso fica a critério de cada um.
Atualmente esse jogo custa entre R$ 59,90 e R$ 99,90 e é para jogadores a partir de 8 anos de idade.


BATALHA NAVAL

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzdYbaC4ULhp7rFE5Wp8CmiiUAqfoyuV1LoBC2JV71bkTtgSyVP2oQe1naWIcvMdiZlw-IVT2ihv1jUg32OYCLs3qRqpPhyphenhyphen67gQyHE1cSP3g-Jr01URmMmSQvcIrTU5p8-1qKfnznSrq67/s1600/16.jpg


Batalha Naval é um jogo super antigo e super divertido também. Existem vários tipos disponíveis no mercado, mas eu utilizo esse que está aí em cima na figura (basta clicar para baixar e imprimir em duas folhas sulfite, uma para cada jogador).
Cada jogador dispõe em seu oceano (seu jogo), as embarcações da forma como desejar. A única exigência é que entre uma e outra exista pelo menos o espaço de um quadradinho (uma água).
Na sua vez, cada jogador faz três tentativas de acertar os navios do adversário e vai marcando seus erros e seus acertos no oceano ao lado (jogo do adversário). Quando perder completamente seu navio, o jogador deverá dizer "afundou" e dizer qual navio se perdeu. Se o adversário acertar um espaço vazio, o jogador deverá dizer "água" para que o adversário possa marcar o que atingiu. Ganha o jogo quem conseguir afundar todos os navios do adversário.
Veja um exemplo de marcação:

Geralmente é um jogo rápido e dependendo dos jogadores, a gente consegue jogar até duas partidas em uma sessão.
O conceito básico é bastante fácil mas ele vai exigir dos jogadores uma série de habilidades, entre elas:
  • raciocínio lógico
  • acuidade visual
  • atenção
  • concentração
  • coordenação visomotora
  • contagem
  • cálculo
  • reconhecimento de letras e números
  • conceito de cheio e vazio 
Fica mais fácil se você utilizar lápis de cores diferentes para cada tipo de embarcação.

WIZZARD - A minha versão

Há um tempo, na loja virtual da Copag eu encontrei esse jogo em baralho que achei bem bonito e interessante. Porém, confesso que jamais entendi as regras e, por isso, resolvi adaptar fazendo uma mistura de Mau Mau e Rouba Monte. Eu jogo da seguinte forma: embaralho as cartas, distribuo 10 para cada jogador e o restante fica sobre a mesa. Cada jogador na sua vez coloca uma carta sobre a mesa que só poderá ser "roubada" por uma carta de valor igual ou superior. A carta do Mago rouba qualquer uma e o Bobo perde para todas.
Ganha o jogo quem terminar com o maior monte.

Esse jogo é interessante porque trabalha o conceito de maior e menor, contagem, reconhecimento de números, além de ser excelente para exercitar o desapego, já que em algum momento do jogo o jogador poderá perder todas as suas cartas e terá que recomeçar. Pacientes com dificuldades de interação social não gostarão muito desse jogo, inicialmente, justamente porque não vão querer dividir suas cartas com ninguém. Porém, ao longo do tempo esse tipo de jogo pode ser um recurso interessante. Como todas as cartas de uma cor se conectam, você pode também utilizar como recurso para exercício de criatividade, trabalhando ainda as questões que surgirem na criação da história, pelo paciente, de acordo com seu histórico.

Essas foram as dicas de hoje, mas existem muitos outros jogos com os quais eu trabalho e aos pouquinhos vou colocando aqui pra você como forma de sugestão para enriquecer ainda mais o seu trabalho.
Lembrando que todos esses jogos podem ser utilizados em sala de aula, integrando diversas disciplinas, trabalhando os conteúdos de acordo com as suas necessidades.