sábado, 21 de setembro de 2019

Melancolia: a metáfora da depressão

Confesso que nunca tinha ouvido falar de Melancolia até o mês passado, quando estava fazendo uma pesquisa para uma aula a respeito de depressão. Eu procurava por filmes que pudessem ilustrar o tema e me deparei com ele.
Melancollia (Melancholia, 2011) é um desses filmes dos quais não saímos impunes. Não é um filme fácil de ser assistido e para quem sofre de depressão, é cheio de possíveis gatilhos e por isso deve ser visto com cautela.
A história fantástica gira em torno de um planeta (Melancolia) que está se aproximando da Terra, mas que a ciência garante que não colidirá com ela.
Quanto mais esse planeta se aproxima, no entanto, mais Justine - a personagem de Kirsten Dunst, que  na vida real também sofre de depressão, tendo inclusive se internado em 2008 - entra numa crise depressiva que acaba atingindo toda sua família, culminando com um final dramático.
Lars Von Trier, o autor, passara por um processo depressivo logo após filmar Anticristo, em 2009 e fica claro que Melancolia é, então, quase uma catarse que expõe de forma densa e metafórica o que ele passou em seu processo e como a depressão atinge não apenas o doente, mas todos aqueles que estão a sua volta. E quanto mais íntima for essa relação, maior a probabilidade de sofrimento.
A fotografia do filme mostra a todo momento como um doente de depressão enxerga o mundo: cheio de distorções, com poucas cores, com desesperança ("a Terra é má, ninguém sentirá falta dela", diz Justine em um diálogo com a irmã). Mostra como o doente se sente preso a um mundo do qual não consegue se livrar sozinho, o peso da dor, da tristeza e a sensação de impotência diante de tudo isso.
O filme também mostra a importância das relações sociais e familiares como gatilhos de crises e também como forma de supera-las. Além disso, aborda a maneira como as pessoas em geral olham com desconfiança e impaciência para o depressivo, sem compreender como seja possível uma pessoa aparentemente saudável deixar de comer, de beber, de tomar banho, deixar de fazer coisas básicas que qualquer adulto faria normalmente.
Como em outras obras desse tipo, a filme abre margem a muitas interpretações e o seu final pode ser compreendido sob várias perspectivas. Justine, mesmo com toda dor e sofrimento, foi a pessoa que deu suporte para sua família nos momentos derradeiros, demonstrando serenidade e resignação. A crença cega na ciência, entretanto, levou John - cunhado de Justine - a cometer suicídio quando percebeu que falhara miseravelmente em suas previsões, dando uma derradeira demonstração de seu caráter egoísta e orgulhoso.  Outra interpretação possível é a de que Melancolia é a própria Justine, que como uma força incontrolável, atinge negativamente toda a família.
Seja como for, Melancolia é impactante, não importa qual seja a interpretação dos acontecimentos. É denso, é lento, é sombrio mas é extremamente enriquecedor para quem deseja compreender como é o mundo de uma pessoa que sofre de depressão.



terça-feira, 3 de setembro de 2019

Vamos falar sobre Depressão

Sábado passado estive no Senac Bertioga, no evento Casa Aberta, falando sobre depressão.
Foi um encontro muito bom em que os presentes puderam ter acesso à informações importantes sobre o assunto, tirar dúvidas, bater um papo, colocar suas impressões e, acima de tudo, sair dali como multiplicadores de informação.
Depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz alterações no humor. Seus principais sintomas são

  • tristeza profunda
  • irritabilidade excessiva e impaciência
  • agressividade desproporcional
  • fogs de memória
  • apatia
  • distúrbios do sono (dormir muito, dormir pouco, acordar durante a noite, insônia)
  • distúrbios no apetite (comer demais ou comer muito pouco)
  • crises de ansiedade
  • queda na produtividade no trabalho (erros, faltas, atrasos, acidentes)
  • isolamento social e familiar
  • verbalização do desejo de morrer ou tentativa de suicídio
  • perda de prazer nas atividades diárias
Segundo dados da USP, o Brasil é o país da América Latina com mais casos de depressão. Esses são dados importantes e preocupantes, porque nossas políticas públicas em saúde mental ainda são muito deficitárias. 
Existem muitas crianças e jovens sofrendo de depressão hoje em dia e esse é um fenômeno mundial.
Seria muito bom se todas as escolas e instituições de ensino estivessem abertas a falar com seus alunos sobre saúde mental. 
Pais e professores precisam estar antenados com essa realidade, seja para observar, seja para encaminhar.
Na criança e no adolescente, além dos sintomas mencionados acima, é preciso prestar atenção em:

  • queda no rendimento escolar
  • falta de interesse em atividades de lazer
  • necessidade de isolamento
  • imersão no mundo digital (jogos, redes sociais)
  • cansaço desproporcional
  • tédio
  • automutilação
Embora pareça ajudar, nunca devemos dizer a uma pessoa com depressão que ela precisa ter força de vontade, que ela parece bem, que é vitimização, que existem pessoas piores do que ela... A pessoa com depressão sabe de tudo isso, mas ela está doente e, portanto, precisa de ajuda médica. Você pediria pra um paraplégico ter força de vontade para sair da cadeira e andar? Pois então...
Ao invés de cobranças, esteja disponível. Diga que você estará sempre presente, que entende o que a pessoa está sentindo, pergunte se pode ajudar em algo e, em casos muito graves, leve a pessoa ao médico compulsoriamente.
Quem trata da depressão são profissionais de saúde mental: psiquiatras e psicólogos.
Qualquer outro profissional que não seja da área de saúde mental não pode tratar depressão. Esqueça fórmulas mágicas, chazinhos, cursos imersivos, coachs, etc. Depressão é coisa muito séria e precisa que o profissional tenha muito conhecimento e muita experiência no assunto para tratar.
E por falar em tratamento, a depressão é geralmente tratada com medicamentos e terapia. A equipe de de saúde mental determinará qual o melhor tratamento para cada doente.
NUNCA TOME MEDICAMENTOS POR CONTA PRÓPRIA OU POR INDICAÇÃO DE AMIGOS.
Muitos medicamentos podem ter efeitos colaterais muito ruins, aumentar a agressividade ou até mesmo levar ao suicídio. Portanto, somente o médico poderá indicar o melhor remédio e o paciente será monitorado para que se verifiquem os efeitos e a possível necessidade de alteração de doses ou até mesmo mudança nos remédios.
Não sinta vergonha, não tenha preconceito. A saúde mental também precisa de atenção.
Procure ajuda, sempre!

Abaixo algumas imagens do encontro.















segunda-feira, 28 de maio de 2018

Trabalhando Praxias Construtivas com palitos




Oi gente!
Na postagem de hoje disponibilizo para vocês uma compilação de esquemas para atividades de praxia construtiva com palitos.
Caso você queira saber como trabalhar o desenvolvimento das praxias e como montar seu próprio material, assista o vídeo no nosso canal do youtube.
O material que estou colocando aqui é uma mistura de criações minhas e compilações que fiz garimpando vários sites e blogs da internet.
Espero que seja útil e que possa lhe ajudar em seus atendimentos.
Para baixar o arquivo, clique no botão abaixo.


terça-feira, 3 de abril de 2018

Seu filho está seguro nas redes sociais?

 
 Eu gostaria de falar um pouco sobre a exposição excessiva das crianças nas redes sociais.
Hoje em dia é muito comum vermos crianças ainda pequenas que já participam das redes sociais sendo youtubers, influencers, que são seguidas por outras crianças e adultos e que seguem outros youtubers crianças ou adultos.
O que devemos nos perguntar é ao que essas crianças estão sendo expostas hoje em dia?
Eu fico muito preocupada porque tenho visto muitos conteúdos com a fachada de conteúdo infantil mas quando nós nos aprofundamos, esses conteúdos são adultos e de péssima influência para as crianças.
Por que tanta necessidade de expor as crianças para que o mundo veja? Por que as crianças não podem mais ser apenas crianças? Por que precisam estar sempre expostas nas redes sociais em fotos, vídeos, comentários, etc?
Uma das explicações para isso é a necessidade que os pais tem de expor seus filhos como troféus. Antigamente nós víamos muito esse comportamento acontecer nas escolas ou entre vizinhos num mesmo prédio, onde os pais travavam verdadeiras disputas veladas sobre as qualidades e habilidades de seus filhos. Com o advento da era digital e com a facilidade de exposição, isso ficou evidenciado de uma maneira diferente.
Muitos pais e muitas mães depositam em seus filhos os seus desejos e frustrações e com isso os colocam em situações em que eles próprios gostariam de estar mas não se colocam seja por falta de coragem, seja porque o tempo passou e não cabem mais nessa realidade. Criam um ambiente que muitas vezes é ruim, de baixíssima qualidade, mas ainda assim sentem-se realizados ao colocar seus filhos em evidência de alguma maneira.

Conteúdos do youtube
Há pouco tempo estava lendo relatos de mães que diziam que seus filhos seguiam um certo youtuber e que elas passaram a perceber que as crianças estavam gritando muito, algumas até mesmo falando palavrões e ao prestar mais atenção, perceberam que as crianças estavam reproduzindo o que viam e ouviam dessa pessoa. Foi então que notaram que por trás de uma fachada de conteúdo infantil, se apresentava uma pessoa grosseira, agressiva e de péssima influência para a educação das crianças.
É preciso ter critério.
Não é porque está na rede que é bom.
Não é porque está na internet que é verdade.
Existem muitos conteúdos adultos que ficam linkados aos conteúdos infantis, mesmo o youtube fazendo o controle de pais, tomando todos os cuidados. Com isso, as crianças acabam ficando expostas a muitos vídeos impróprios e até mesmo perigosos que acabam assistindo e que, muitas vezes, os pais nem ficam sabendo.
Eu pergunto: qual a função de um conteúdo adulto estar grudado num conteúdo infantil?
Por isso é preciso ter muita atenção ao que a criança está assistindo, é preciso controlar de perto mesmo.
Evitem deixar o computador no quarto ou a criança sozinha com tablets e celulares.
Estejam sempre atentos!

Exposição em redes sociais
As crianças tem estado muito expostas aos perigos das redes sociais.
Vejo pais e mães expondo toda a rotina de suas famílias, inclusive de seus filhos: aonde vão, aonde estão, a rotina do dia completa, nome da escola, fotos com o uniforme. Isso é perigoso!
Isso expõe a criança a um perigo desnecessário.
Você pegaria fotos de seu filho ou sua filha e colocaria em cartazes espalhados pela cidade explicando detalhadamente a rotina dele ou dela? Eu acredito que não. Então por que fazer isso nas redes sociais onde qualquer pessoa pode ter acesso a essas informações?
Outra coisa que precisamos pensar e ficar atentos diz respeito a muitos vídeos que expõem crianças em situações vexatórias ou de muita fragilidade.
São inúmeros vídeos disponíveis pela rede nos quais podemos ver crianças chorando, muitas vezes até mesmo expostas nuas, em situações que os pais ou os adultos até acham engraçadas mas que para a criança, são de sofrimento real.
Eu te pergunto: você gostaria de ser exposto em rede mundial em um momento de fragilidade extrema, nu, em desespero ou em qualquer outro tipo de situação em que você se encontrasse fragilizado? E mais, sem ter o direito de escolha sobre isso?
Eu acredito que não.
Então por que os adultos acreditam que tem o direito de fazer isso com uma criança?
O fato de você ser pai ou mãe de uma criança não lhe dá o direito de expo-la em momentos de fragilidade ou vexame.
Esse tipo de situação pode gerar sentimentos ruins na criança. Ela pode se sentir envergonhada, humilhada, outros colegas da escola podem ver o vídeo e praticarem bullying com ela, ela pode desenvolver um sentimento de menos valia, pode se tornar uma criança extremamente retraída e pode até mesmo perder a confiança nos pais. E tudo isso por que? Em troca de alguns likes e kkk numa rede social?
Se um adulto quer se expor, ele tem o poder de escolha inclusive de lidar com as consequências de sua escolha. Mas a criança não tem esse poder de escolha.

Por tudo isso é preciso ter muita cautela, prestar atenção aos conteúdos aos quais as crianças estão sendo expostas, acompanhar de perto e evitar exposição desnecessária, além de respeitar a criança como um ser humano em desenvolvimento que merece todo respeito e cuidado.

terça-feira, 13 de março de 2018

Será que esse problema é insolucionável?



Será que esse problema tem o exato tamanho que você está dando a ele? E se ele não fosse seu, se ele fosse de outra pessoa, você o solucionaria? Assista.

Licença Creative Commons
Será que esse problema é mesmo insolucionável? de Desiree dos Reis Sergente está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://youtu.be/nnQCWzHeKkI.
 Conecte-se: facebook.com/genteimportanteoficial
www.genteimportante.com.br
facebook.com/dspsicologia













sábado, 10 de março de 2018

TDAH

Áudio aula sobre TDAH: o que é, diagnóstico, tratamento, dicas para pais.

TDAH de Desiree dos Reis Sergente está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Baseado no trabalho disponível em https:/Desiree-sergente – TDAH.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Fases do desenvolvimento infantil e prejuízo escolar

Relacionamentos Abusivos



Você sabe o que é um relacionamento abusivo?
Você sabe identificar quando alguém que você conhece, está num relacionamento abusivo?
Você sabia que não são apenas as mulheres que podem ser vítimas de relacionamentos abusivos?
Neste vídeo abordamos esse assunto de forma simples e direta. Dê uma olhada!

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Mais jogos como recurso terapêutico

Periodicamente tenho feito postagens sobre o uso de jogos como recurso terapêutico.
Estou sempre garimpando na internet, procurando novidades que saiam do lugar comum. Há algum tempo tinha visto uns jogos super diferentes, não muito comuns aqui no Brasil e descobri uma oficina de criação que confecciona esses jogos em madeira. São jogos do mundo todo que eles disponibilizam em formatos visualmente muito bonitos, além de darem todas as instruções pelo youtube.
Hoje vou compartilhar com vocês três novos jogos que eu adquiri e que além de serem muito funcionais, também são muito atrativos.

Bagha - Chall




Bagha-Chall é o jogo nacional do Nepal e significa "mudança de tigres".
É um jogo que mistura elementos da dama e do xadrez, porém as peças se posicionam nos cruzamentos e se movem pelas linhas. É feito para duas pessoas.
Cada jogador escolhe o animal que vai representa-lo no jogo e cada animal tem número diferente de peças (4 tigres e 20 ovelhas). Tigres e ovelhas se movimentam de formas diferentes e tem regras diferentes. Mas apesar de tantas diferenças, o jogo segue equilibrado, dando chances iguais a ambos os jogadores. As regras detalhadas do jogo podem ser vistas aqui.
Além de ser bastante atrativo para as crianças devido às peças serem pequenos animais, é um jogo que estimula o raciocínio, a concentração, a atenção, a criação de estratégias, a abstração, o controle da impulsividade, além de mostrar a importancia e a diferença entre estratégias coletivas, individuais, e desenvolver o espírito de liderança.
Bagha-Chall é um jogo com regras simples, fácil de ser jogado mas que estimula estruturas bastante complexas da criança, ajudando-a na tomada de decisões e no seu posicionamento diante de decisões coletivas ou individuais, sem que se torne individualista.

Queops



Outro jogo da Mitra, Queops é um jogo de pouca dificuldade mas que também estimula várias áreas.
Cada jogador coloca uma esfera por vez nos espaços do tabuleiro, até que finalmente se forme uma pirâmide e vence o jogo aquele que colocar a última esfera no topo da pirâmide. Porém, para que isso aconteça, é preciso que os jogadores sigam regras específicas de colocação, retirada e reserva de esferas. O jogador que ficar sem esferas antes da colocação do topo da pirâmide, perde o jogo.
As regras completas estão aqui.
Queops permite a estimulação e o desenvolvimento da percepção espacial, raciocínio abstrato, formação de estratégias, controle da impulsividade, concentração, atenção, além de estimular a coordenação visuoespacial. 
 
 Chroma 4

 
Chroma 4 é basicamente um quebra-cabeças cujo objetivo é construir um quadrado de 30x30 utilizando todas as peças coloridas, porém sem que as peças de cores iguais se toquem nem pelas laterais e nem pelos cantos. Parece simples, mas não é.
Pode ser jogado individualmente ou em dupla, dependendo do objetivo a ser alcançado. Pode também ser jogado como um dominó, distribuindo algumas peças e deixando as outras escondidas para serem retiradas uma a uma ao longo do jogo. As instruções completas estão aqui.
O jogo estimula atenção, concentração, controle da impulsividade, percepção visual, abstração, raciocínio, além de trabalhar os princípios da proporcionalidade matemática.
Quando jogado em dupla, estimula também a competitividade sadia.

Apesar de terem regras bem claras, todos os jogos podem ser adaptados à realidade do público que iremos atender.
Por exemplo: se temos uma criança hiperativa, provavelmente ela vai ter dificuldade em se manter interessada até o final da partida. Sendo assim, podemos criar uma nova regra especial para aquela criança que permita encurtar um pouco o jogo, tornando-o mais rápido e permitindo assim, que a criança mantenha o foco. Aos poucos, vamos introduzindo as regras normais do jogo, de acordo com o desenvolvimento das capacidades cognitivas dessa criança.
Não nos esqueçamos que os jogos também podem - e devem - ser usados com os adultos em reabilitação cognitiva ou neuropsicológica, pois é uma ferramenta que permite a estimulação de várias áreas de forma lúdica e tranquila, trazendo excelentes resultados.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O imaginário feminino em Outlander (contém spoilers)




Outlander é uma novela da escritora americana Diana Gabaldon. Na história a protagonista Claire, uma mulher de 27 anos que vive na década de 1940, viaja até a Escócia em segunda lua de mel com seu marido Frank, logo após o término da II Guerra Mundial. Lá, entre mitos e lendas, entre druidas e fantasmas, Claire acaba por realizar uma viagem no tempo através das pedras de Craig na Dun, indo parar no ano 1743, numa realidade completamente diferente da sua. Ao chegar no passado ela conhece o terrível Black Jack Randall, o tataravô antepassado de seu marido Frank, e Jamie Fraser, por quem acaba se apaixonando e em quem a história toda acaba orbitando.
Os primeiros livros foram escritos na década de 1990 mas a primeira temporada da série de TV foi filmada entre 2014/2015 pela Starz, tendo Sam Heugham como Jamie e Caitriona Balfe como Claire. A segunda temporada foi exibida em 2016 e a terceira temporada está em andamento desde setembro de 2017.
Outlander está longe de ser uma história de amor nos moldes romanceados de Jane Austen mas tem mexido fortemente com o imáginário feminino, mesmo sendo permeada por momentos de extrema violência e crueldade.
Por que será que no ano de 2017 e em pleno século XXI onde o feminismo está cada vez mais forte e a luta das mulheres por liberdade e direitos iguais cresce dia a dia, Outlander e seu protagonista James (Jamie) Fraser, um guerreiro highlander machista, fazem tanto sucesso com as mulheres como fazia quando as histórias iniciais foram escritas, na década de 1990?
Acredito que a reposta não esteja em Jamie propriamente dito, mas na personagem feminina Claire.
Apesar de ser uma mulher do século XX e em sua época original também enfrentar o machismo e o preconceito, Claire nunca aceitou esse tipo de limitação ou imposição. Sempre foi uma mulher à frente de seu tempo tendo sido criada pelo tio, um Arqueólogo que nunca exigiu dela atitudes e comportamentos de “menininha”. Ao invés disso, Claire viveu em diversos lugares do mundo, dormiu ao relento, aprendeu a sobreviver na selva, aprendeu a ser forte diante das dificuldades e a não depender de ninguém, principalmente de um homem.
Claire nunca teve uma vida comum e monótona e transporta essa característica para o século XVIII, onde não aceita as imposições feitas à mulher da época.
Porém, mesmo com todas essas características, se apaixona pelo guerreiro Jamie, um homem alto, forte, ruivo, mais novo que ela e virgem com quem é obrigada a se casar para não ser capturada por Black Jack Randal.
Apesar de seu lado machista, resultado da educação que recebeu de seu pai, de seu padrinho e de seus tios, Jamie é gentil e carinhoso, muitas vezes se apresentando como um menino frágil. Porém é igualmente protetor, salvando-a e protegendo-a de todo tipo de perigo e adversidade.
A vida com Jamie nunca será monótona. O casal passa por inúmeros problemas e dificuldades, o que reforça ainda mais os laços entre eles. Quanto mais problemas, mais apaixonados e unidos eles se tornam. 
Outro ponto crucial na vida do casal é o sexo. De uma forma ou de outra, Jamie e Claire conseguem resolver todas as suas diferenças na cama, onde também não há monotonia. Entre eles o sexo nunca é igual, podendo ser selvagem ou a mais amável e tranquila das transas. Jamie e Claire são a representação do par perfeito, sem serem piegas ou cliché.
Apesar de amar e respeitar Jamie, Claire nunca se furta de se impor como mulher e ser humano livre e autônomo. Entretanto, sabe como ninguém quando ceder aos desejos de Jamie e até mesmo obedece-lo, se for necessário.
Claire jamais conseguiria viver uma vida monótona e tranquila de dona de casa comum. Jamais conseguiria se contentar com um marido que suprisse todas as suas necessidades enquanto ela ficaria em casa cuidando dos filhos, no século XVIII ou no século XX. Prova disso é que ao voltar ao século XX, antes da batalha de Culloden, Claire tenta retomar seu casamento com Frank mas não consegue. A vida que Frank lhe oferece é pacata demais, monótona demais, segura demais. Claire é inquieta, ativa, altiva, malcriada, segura de si, proativa. Ela precisa de mais, sempre mais. Por isso decide quebrar todas as regras e se tornar uma médica cirurgiã numa época em que as mulheres sequer frequentavam as universidades. Por isso a vida com Jamie era tão excitante e desejada, porque Claire podia ser plena naquele cenário de aventuras, perigos e amor.
Por outro lado, a vida com Jamie permite que Claire exercite também o oposto de sua personalidade positivamente agressiva, dando vazão a seu lado maternal, cuidadora, pois é ela quem está sempre cuidando dele, tratando de suas feridas, ensinando-o e ajudando-o a crescer e ser uma pessoa melhor. Essa é mais uma característica da personalidade dela.
Claire é a representação arquetípica do feminino em vários níveis.
O universo de Claire é o universo que a maioria das mulheres ainda sonha para si: ser livre, viver uma vida sem monotonia, crescer profissionalmente e ainda assim ter ao seu lado um homem que seja capaz de faze-la se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, satisfaze-la sexualmente, viver com ela as mais diversas aventuras, aceitando-a, compreendendo-a e protegendo-a.
As mulheres amam James Fraser, mas certamente amam muito mais Claire Beauchamp que traz consigo o retrato da mulher moderna - empoderada e dona de si, que não aceita se anular por ninguém, nem deixar de viver seus sonhos e seus desejos - embebido no imaginário feminino de viver um grande amor que sobreviva ao tempo e à distância.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Usando jogos: Imagine-me

É muito bom quando a gente consegue dicas legais na internet, não é?
Tem um site muito bom que eu sigo, o Reab, que sempre traz informações preciosas sobre material, procedimentos e muitas novidades.
Foi lá que eu vi esse jogo, o Imagine-me, achei muito interessante e por isso quero dividir com vocês esse instrumento que permite várias aplicações.
O Imagine-me é um jogo de cartas que estimula a imaginação sugerindo a criação de desenhos divertidos e que pode ser usado com crianças, adolescentes ou adultos.
Mas não para por aí.
O Imagine-me é um importante instrumento para trabalhar a compreensão leitora, a memória de trabalho, a motricidade, entre outros.
As cartas são divididas em três categorias: cabeça, corpo e pernas. Em cada categoria está indicado o que deve ser desenhado. Por exemplo: "tem a cabeça grande com olhos redondos, cabelos compridos e usa um chapéu de chifres".
A pessoa junta as três cartas e constrói a sua criatura de acordo com as instruções. Esse construir pode ser por meio de desenho, pintura, modelagem em massa ou argila.
Poderíamos parar por aí e já seria bem legal, mas podemos ir um pouco mais além e pedir que a criança, por exemplo, represente como ela imagina que sua criatura andaria, sentaria, se moveria, como ela falaria, se seria uma criatura boa ou má, enfim, as possibilidades são inúmeras e promove em nós, terapeutas, também o exercício da criatividade.
Use!


terça-feira, 25 de abril de 2017

O suicídio entre crianças e jovens



Gustav Klimt - A vida e a Morte

Seguindo a série de artigos sobre suicídio, vou falar hoje sobre o suicídio entre crianças e jovens.

Lembro-me de quando Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, cometeu suicídio. Naquela semana, pelo menos 68 jovens tiraram suas vidas imitando o ídolo. Mas essa não foi a primeira vez em que jovens cometeram suicídio por imitação. Quando Goethe lançou seu livro Werther, em 1774, ocorreu uma onda de suicídio entre os jovens que se identificaram com o personagem principal, que se mata por amor no final do livro. O caso foi considerado tão grave que o livro foi tirado de circulação.

Muitos outros casos constam na História, o que nos faz compreender que, por mais estranho e incompreensível que possa parecer, sim, os jovens cometem suicídio por imitação, por identificação, por homenagem a um ídolo, como também podem tirar a própria vida por depressão, bullying, stress, pressões excessivas, entre outros motivos.
Segundo dados do Mapa da Violência, organizado pelo Ministério da Saúde, de 2002 a 2012 o número de suicídios entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos aumentou 40%. Criador do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz destaca que o suicídio também cresce no conjunto da população brasileira. A taxa aumentou 60% desde 1980. Segundo a BBC Brasil, em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária entre 15 e 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000. Assim, entre 1980 a 2014, houve um crescimento de 27,2%. 

Isso é um aumento bastante significativo e devemos nos perguntar por que tantas crianças e tantos adolescentes escolhem tirar a própria vida quando ela está apenas começando.

Em primeiro lugar precisamos entender que ninguém que esteja mentalmente sadio, completamente feliz e satisfeito com a própria existência pensa em morrer. A morte pode aparecer como "solução" para quem não enxerga mais nenhuma saída para o próprio sofrimento. E não nos cabe dizer que o que a pessoa sente é muito pouco para pensar em se matar, porque cada um vivencia o sofrimento e a dor de forma muito própria e particular. Portanto, dizer que a pessoa é fraca, que quer chamar a atenção e outras tantas coisas que costumamos ouvir e até mesmo dizer muitas vezes, não reflete a verdade dessas pessoas, tampouco as ajuda a se recuperar de sua condição.

Os jovens e as crianças, via de regra, não estão completamente preparados para lidar com o sofrimento e com as pressões, portanto situações como bullying, o cyberbullying, a perda de entes queridos, stress constante, dores físicas podem ser fatores desencadeantes para o desejo de morte. Segundo Evelyn Kuczynski, um estudo que analisou 37 pesquisas mundiais identifica o bullying como uma das principais causas do suicídio de crianças e adolescentes, sendo o suicídio a terceira maior causa de mortalidade no mundo nesta faixa etária, atrás apenas dos acidentes de trânsito e homicídios. 

O suicídio é mais comum em adolescentes a partir dos 15 anos de idade, porém há casos em que crianças tiram suas próprias vidas. Esses casos, entretanto, são raros devido ao próprio desenvolvimento do conceito de morte em cada faixa etária, além da capacidade de planejamento, ideação, etc, a que a criança tem acesso dependendo de sua idade. 
É bastante frequente que os casos de suicídio estejam acompanhados de transtornos mentais, mas os casos onde não existe nenhum transtorno associado também acontecem. 

É preciso saber que crianças já bem pequenas podem apresentar sintomas de depressão ou de tendência à auto-destruição. Porém, muitas vezes os pais não conseguem identificar esses sintomas, pois eles podem ser facilmente confundidos com "coisa de criança", birra, malcriação, irritabilidade, etc. Estamos acostumados a associar a depressão a uma profunda tristeza, mas não é apenas dessa maneira que ela se manifesta. Uma pessoa muito irritada, muito agressiva, constantemente cansada também pode estar apresentando sintomas depressivos e não tão facilmente identificáveis.

Os adolescentes, devido a toda a série de mudanças físicas e psíquicas às quais passam, estão mais propensos a terem sintomas depressivos que podem ser mais ou menos patológicos, ou, em outros termos, que podem ser considerados mais ou menos "normais', de acordo com a maneira como se apresentam. 

Embora a depressão seja uma patologia com mudanças biológicas no cérebro, ela pode se apresentar com maior ou menor intensidade de acordo com o ambiente em que a criança ou o adolescente vivem.

Podemos citar alguns sinais de alerta para os sintomas depressivos em crianças e jovens:

Na infância:

  1. a criança que não brinca ou o faz sempre sozinha
  2. agitação excessiva, 
  3. quedas frequentes,
  4. infecções
  5. problemas com apetite. 
Na adolescência:
  1. ausência de relações sociais,
  2. improdutividade escolar, 
  3. agressividade ou agitação excessiva,
  4. mudanças abruptas de humor, 
  5. irritabilidade,
  6. ansiedade
  7. auto-mutilação (cortar-se, arrancar os cabelos ou pelos do corpo, por exemplo)
  8. uso abusivo de álcool
  9. uso de drogas
  10. passar longas horas conectado ao computador e evitar contato no mundo real
Segundo a OMS, os fatores de risco para o suicídio infanto-juvenil são:

depressão

histórico familiar de suicídio

uso de álcool e drogas na família ou pelo jovem 

abuso

acesso ao instrumento

bullying

estresse

pressão interna

dificuldade de interação social


Importante salientar que esses são apenas alguns sinais. Por isso é muito importante que os pais estejam sempre atentos a seus filhos e ao comportamento que eles apresentam. Monitorar o que seus filhos fazem, com quem se relacionam, observar seu dia a dia, olhar seus livros escolares, perguntar sobre seus interesses, tudo isso e muito mais traz importantes informações aos pais sobre como está a saúde mental de seus filhos, como anda seu humor, se há mudanças importantes em seu comportamento.

E se notar alguma mudança abrupta na forma como seu filho se comporta, procure um médico, converse com um psiquiatra ou um psicólogo, procure algum tipo de ajuda, pois o diagnóstico desses casos é complexo, difícil e quanto antes o problema for identificado e tratado, menores serão os danos causados tanto à criança ou ao jovem, quanto à sua família.